sábado, 6 de outubro de 2012

O Padre e o Ator


           
 Certa vez um grupo de teatro chegou a uma pequena cidade para apresentar uma peça.  Como não havia teatro no local, recorreram ao padre para pedir-lhe o salão paroquial para a apresentação.

            Cordialmente o padre concedeu. De imediato, o organizador do grupo o convidou para assistir à peça que seria no outro dia, sábado à noite. Gentilmente o padre aceitou, mas com uma ressalva: que toda equipe fosse à missa no domingo pela manhã. Combinaram.

            No sábado à noite, no salão paroquial, na hora marcada, lá estava o padre alegre e ansioso, para ver a apresentação. Antes do início do espetáculo a plateia estava  atônita com tanta beleza de luz, som, figurino, organização. Todos ficaram encantados; nunca tinham visto um ambiente tão harmonioso. O espetáculo começou. Silêncio total. A peça transcorreu muito bem... No final, todos emocionados aplaudiram  prolongadamente. O padre não escondia sua alegria.

            No dia seguinte, de manhã cedo, lá estava a equipe de atores na Igreja para assistir à missa do padre, como haviam combinado. No início, alegremente, o padre apresentou-se à comunidade e a cerimônia se desenrolou normalmente.  Após a celebração,  todos foram à casa paroquial tomar café e conversar.  O responsável pelo grupo perguntou ao padre: - Diga-nos, que impressão o teatro deixou no senhor? - A melhor!, disse o padre.

- Detalhe para nós sua avaliação; é importante para o nosso crescimento, por favor ! - A equipe está de parabéns em tudo, seja nos cenários ou nas roupas, na iluminação, no som, no domínio do público etc.  Belo, tudo muito belo ! A plateia, que coisa impressionante, na hora do silêncio não escutava nada, já na hora de rir, como riam e, para minha surpresa, choravam nos momentos dramáticos. Fantástico !

            É o que tenho a dizer. Mas, e a Missa qual é a impressão de vocês?  Digam-me!

            Todos se entreolharam, mas ninguém queria se pronunciar. Como o  padre insistiu, o responsável do grupo comentou:

            - Padre, não sou a melhor pessoa para avaliar, pois não sou um bom fiel; apenas quero falar como um ator. 
             -  Isso! exclamou o padre, alegremente.

            - Nós somos atores e trabalhamos em equipe com objetivo de transmitir  à plateia uma história que deve ser compreendida e vivida por todos, atores e público, mesmo que não seja verdadeira.

            - É verdade. Eu mesmo, disse o padre, entrei na história ri e  chorei.

- Mas padre o que não compreendo é que você com sua equipe tem uma verdade para ser apresentada que é a história de Jesus, mas usam de instrumentos para transmitir tal verdade que as pessoas acham que não passa de uma mentira tudo  que querem passar.

- Como assim ! Replicou o padre.

- Se temos uma mensagem para transmitir ela não será apresentada apenas com voz e sim com vários instrumentos e, sobretudo, com as pessoas que estão envolvidas na transmissão. Lembrem-se, padre, nosso comportamento, gestos, concentração, união,  vestuário, também comunicam.

- Estou compreendendo, disse o padre, atento a tudo que lhe dizia o ator. Este continuou: a sua equipe é quem mais conversa durante a missa.  Coisa imperdoável no teatro.  Lá tudo deve ser combinado antes.  As pessoas que estão em seu redor, um desastre ! Mal vestidas, mal humoradas, túnicas amassadas, cochilam, bocejam, jogam as pernas para um lado e para o outro, apresentam-se insatisfeitas, etc., os que usam a voz, os leitores, nossa, um tormento.  Não sabem ter postura na mesa da palavra. E o pior ainda, lêem sem vida, como se não acreditassem nas palavras. Dão a entender que não leram antes, não ensaiaram, impensável no teatro ! O ator tomou água e prosseguiu.

            - Os cantores, que têm uma função importante na celebração, pude perceber que são improvisadores. Enquanto você celebra, eles estão procurando o que cantar em seguida.  Conversam, riem, verdadeiramente não comunica o divino.

            O padre parecia atônito a tudo isso e em silêncio tudo escutava.

            - O espaço onde aconteceu a celebração é sagrado, mas a forma como o arrumam, nega totalmente o zelo pelo sagrado. Observe o que lhe digo: as velas, os tecidos que ornamentam, as cadeiras, o altar dos santos. Os arranjos de flores, tudo parece mais um caos devido à  desorganização. Não comunicam que ali habita Deus.

            - Volto a afirmar: vocês têm uma verdade para anunciar e apresentar; mas, da forma que apresentam parece ser mais uma mentira; e nós temos uma mentira a apresentar e as pessoas aceitam como verdade. Algo em você e na equipe está errado. Corrija enquanto é tempo. Deus merece ser comunicado em tudo e em todos.

  - O que fazer? Perguntou o padre.

           - Faça com que sua equipe zele pelo sagrado e comunique Deus em tudo.  Ele é uma verdade e deve ser compreendido em tudo na Igreja e na equipe.

O padre pensativo, agradeceu as colocações e se despediram.

- QUE REFLEXÃO O TEXTO SUGERE PARA NOSSA MANEIRA DE SER IGREJA?

Fonte: Revista Comunhão.

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