Os devotos escrupulosos são aqueles que receiam
desonrar o Filho, honrando a Mãe, e rebaixá-lo se a exaltarem demais. Não podem
suportar que se repitam à Santíssima Virgem aqueles louvores justíssimos que
lhe teceram os Santos Padres; não suportam sem desgosto que a multidão
ajoelhada aos pés de Maria seja maior que ante o altar do Santíssimo
Sacramento, como se fossem antagônicos, e como se os que rezam à Santíssima
Virgem não rezassem a Jesus Cristo por meio dela. Não querem que se fale tão
freqüentemente da Santíssima Virgem, nem que se recorra tantas vezes a ela.
Algumas frases eles as repetem a cada momento:
Para que tantos terços, tantas confrarias e devoções exteriores à Santíssima
Virgem? Vai nisso muito de ignorância! É fazer da religião uma palhaçada.
Falai-me, sim, dos que são devotos de Jesus Cristo (e eles o nomeiam, muitas
vezes, sem se descobrir, digo-o sem parêntesis): cumpre recorrer a Jesus
Cristo, pois é ele o nosso único medianeiro; é preciso pregar Jesus Cristo,
isto sim que é sólido!
Em certo sentido, é verdade o que eles dizem.
Mas, pela aplicação que lhe dão, é bem perigoso e constitui uma cilada sutil do
maligno, sob o pretexto de um bem muito maior, pois nunca se há de honrar mais
a Jesus Cristo, do que honrando a Santíssima Virgem, desde que a honra que se
presta a Maria não tem outro fim que honrar mais perfeitamente a Jesus Cristo,
e que só se vai a Ela como ao caminho para atingir o termo que é Jesus Cristo.
A santa Igreja, como o
Espírito Santo, bendiz primeiro a Santíssima Virgem e depois Jesus Cristo:
“benedicta tu in mulieribus et benedictus fructus ventris tui Iesus”. Não
porque a Santíssima Virgem seja mais ou igual a Jesus Cristo: seria uma heresia
intolerável, mas porque, para mais perfeitamente bendizer Jesus Cristo, cumpre
bendizer antes a Maria. Digamos, portanto, com todos os verdadeiros devotos de
Maria, contra seus falsos e escrupulosos devotos: Ó Maria, bendita sois vós entre todas as mulheres e bendito é o fruto
do vosso ventre, Jesus!
Fonte: São Luís
Maria Grignion de Monfort. Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima
Virgem. Editora
Vozes. Petrópolis, 19ª edição. 1992.
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